Psicomotricidade Relacional - Uma Intervenção Social "O Despertar do Jovem para o Mercado de Trabalho"
Por José Leopoldo Vieira
Experiência com um Grupo de 20 de jovens de classe social desfavorecida provenientes de comunidades consideradas de risco.
Jovens caracterizados pela descrença, desconfiança e por um conformismo e dependência alarmantes. Parecem "vazios de ser". Estão aprisionados na internalização do "outro", como gestor e provedor de suas vidas tanto hoje como no futuro. Responsabilizam ao "outro" todas as suas possibilidades de sucesso ou de fracasso. Estão impregnados de promessas do "outro" e nada fazem para ir à luta, permanecem paralisados, esperam que caia do céu o bilhete da sorte que mudará suas vidas.
Não conseguem enxergar o que são, o que podem e devem fazer para sair deste estado de alienação, e se posicionar diante da vida como protagonista de sua própria história. Parecem não compreender que somente eles poderão fazer por eles. E esta compreensão não se situa mais no plano verbal, intelectual, pois de discurso de "outros" eles já estão "craques".
Precisam se resgatar, contactar consigo mesmo e com os outros de forma afetiva e verdadeira, jogando simbolicamente com todas as suas faces boas e más. Necessitam sentir-se aceitos incondicionalmente, serem nutridos afetivamente para que possam arriscar olhar para dentro de si mesmo e se enxergar como seres humanos, provenientes de uma família que bem ou mal são os seus referenciais, e de uma sociedade injusta e implacável.
Nos encontros de Psicomotricidade Relacional, começam por descobrir que as relações afetivas e o conhecimento do mundo que trazem inscritos em seus próprios corpos são os ingredientes necessários à ampliação de seu repertório, podem construir na liberdade de pesquisas ativas e na expressão criativa de seus próprios atos, possibilidades de conhecer a si e ao outro, podem se diferenciar deste e afirmar sua identidade, reconhecendo-se capaz de usar seus recursos pessoais para atuar construtivamente de acordo com suas possibilidades e limitações, assumindo seu Poder enquanto sujeito o que o leva a despertar seu desejo para o mercado de trabalho.
Os atendimentos de Psicomotricidade Relacional não se restringiram a medidas "pedagógicas ou educativas" para torná-los um sujeito igual a todos os outros, porém abre-lhes possibilidades de fazer a diferença.
Sabemos que a mudança não se dá de uma hora para outra e que a psicomotricidade não é mágica, porém acreditamos que a partir desta experiência irão se sentir fortalecidos a buscar seus objetivos, com uma visão ampliada de seu papel e de suas responsabilidades no sentido de recriar suas competências para ter sucesso na vida com uma atuação profissional, ética, competente e conseqüente.
A Psicomotricidade Relacional desenvolve estudos buscando seu alicerçe nos princípios científicos de Psicologia mais humana. Originalmente está constituída por conhecimentos psicológicos, fisiológicos e relacionais. Se caracteriza por priorizar o trabalho em grupos terapêuticos enfatiza-se nas múltiplas relações a comunicação humana por meio do ato motor, faz relevância a linguagem corporal e ao corpo como integrador de características psicofísicas do sujeito, assim como, entre ele e o ambiente no qual está inserido.
É uma praxis que procura dar um espaço de liberdade onde o jovem aparece inteiro, com seu corpo, suas emoções, sua fantasia, seu SER em formação.
Um espaço onde possa expressar e jogar seus conflitos, seus medos, sua ambivalência, seus sentimentos, tudo dentro da estrutura narrativa da atividade lúdica e nas relações que se estabelecem com seus coetâneos e com o adulto. Espaço esse de legitimação de seus pedidos, de suas necessidades, dos limites, do conhecimento e reconhecimento de si e dos outros. Espaço de desenvolvimento pessoal e interpessoal, de estruturação do jovem como SER, de investimentos não em dificuldades e sintomas, mas em suas possibilidades de ser e crescer melhor.
Esta metodologia de trabalho se destaca por considerar basicamente os fatores de comunicação não verbal, mediante a relação corporal, por intermédio da participação entre jovem e psicomotricista. A decodificação da linguagem corporal (analógica), predominantemente presente na infância, onde o ato comunica muito mais que palavras, se faz substancialmente mais eficaz e eficiente.
Desta forma, a Psicomotricidade Relacional atinge as necessidades do grupo em estudo, atendendo ao princípio de igualdade de oportunidades e sob o objetivo geral do Estatuto da Infância e Adolescência de compensar a desigualdade, elevando o nível de participação ativa na sociedade e efetivando o conceito de cidadania.
José Leopoldo Vieira
Psicomotricista Relacional didata,
professor e diretor-geral do Centro
Internacional de Análise Relacional (Ciar)
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